A sutil abordagem do Racismo em Watch Dogs 2

Essa matéria é uma tradução de um artigo publicado na Polygon. Escrita por Tanya Depass é uma apaixonada por Chicago, que ama tudo sobre jogos, #INeedDiverseGames e quer fazer isso mais inclusivo para todos. Fundadora da EIC of @OutofTokensCast, the Diversity Liaison for GaymerX. Link Original.

Watch Dogs 2 me surpreendeu em como lidar com micro agressões que os negros da área de tecnologia encontram frequentemente. Considerando como o primeiro jogo serviu para perpetuar o estereotipo de hackers como antissociais, na continuação temos algo totalmente novo. O herói do jogo é Marcus Holloway, um simpático hacker negro, que está sempre nas minhas cenas favoritas com Horatio Carlin, outro hacker negro que nós gonhecemos na DedSec.

Tem alguns personagens que eu consigo me identificar, que falam com as minhas experiências e isso é muito raro em jogos com um publico abrangente. Considerando o ridículo argumento que Battlefield 1 faz “blackwashing” com a Primeira Guerra Mundial. Os criadores de Remember Me que tiveram dificuldades em conseguir que alguém publicasse o jogo com uma protagonista negra. I não esperava gostar dos personagens de Watch Dogs 2, mas eu não importo com esse tipo de surpresa agradável nos jogos.

Na verdade e eu estava bem entediada com esse jogo no começo. Desde que eu larguei o primeiro Watch Dogs, eu não fazia ideia do motivo que o protagonista Marcus Holloway se importava tanto em se unir ao DedSec, um grupo dos melhores hacker. Na missão introdutória, nós somos levados a deletar o perfil de Marcus dos servidores da CTOS, mas nós não temos ideia do porquê, apenas que é uma iniciação para poder entrar no DedSec.  Um pouco de explicação teria me envolvido mais, mas nem tudo estava perdido depois das primeiras horas.

O jogo foi melhorando aos poucos. A primeira coisa que derreteu qualquer má vontade inicial foi a missão onde Marcus e a DedSec planejam roubar o script e o carro de um filme no melhor estilo “Super Maquina”.  Por que? O roteiro do filme representaria um grupo de hackers, parecido com eles, mas não tão bem representados assim. Roubar e fugir com o carro e fugir para a minha vida digital pelas ruas de São Francisco foi o ponto de virada do meu interesse com o jogo.

A inteligência artificial do carro fala que não consegue reconhecer Marcus, por que sua pela é muito escura, isso me fez pensar duas coisas na hora. Uma foi que eles realmente tocaram no assunto, eles realmente fizeram. A outra foi de um problema no mundo real onde câmeras da HP não conseguiam reconhecer usuários negros. Existe um longo histórico de viés racial na fotografia, em como os filmes de maquina eram fabricados, então os problemas de tecnologia de reconhecimento fácil com rostos negros não é um problema novo.

E essa não foi minha única surpresa em termo de como Watch Dogs 2 aborda o tema racial. O momento definitivo que me fez amar o jogo foi nas conversas entre Marcus e Horatio, o único outro integrante negro do time, com um trabalho legitimo durante o de onde ele tira diversas informações para DedSec.

Quando eles estão andando pelo campus da Nudle (uma versão satírica da Google), a um momento entre eles que muitos de nós tivemos na nossa vida corporativa.

Marcus fala para Horatio, quando eles chegam, “Ei, Horatio, eu estou assustado mano.”

Horatio: “Assustado? De que?”

Para qualquer um que já foi o único ou uma das poucas pessoas negras em uma empresa de tecnologia, a resposta de Marcus era obvia. “Ninguém se parece com a gente”.

Algumas vezes o humor é a única saída para abordar essas situações e é assim que Horatio responde.

“Cara, bem vindo ao Silicon Valley. Como você chama um negro cercado por milhares de brancos?”

Marcus: “Hein?”

Horatio: “Senhor Presidente”

Assim que eles entraram na cafeteria, Horatico passa por sua doie diária de micro agressões por um colega de trabalho branco que tem certeza que ele está tramando algo, ou não é bom o suficiente. Esse colega só por sua suspeita o incrimina para o RH da empresa.

Qualquer pessoa de cor com um colega branco que está convencido que você não pertence aquele lugar, teve a mesma experiência; o mesmo sentimento de ser culpado até que se prove inocente … e ainda assim talvez ser chamado de culpado.

Isso não deveria ser tão raro

É bom ver outro jogo recente além e Mafia 3 que aborde raça e negritude. Mafia nós leva a 1968 onde os getos e o racismo eram piores, mas Watch Dogs 2 é atual, mostrando como Marcus lida com o racismo diário que faz parte dos negros estadunidenses.

Isso foi pensado durante a produção, e a equipe criativa pareceu lutou para abordar um pouco sobre como discutir o tema.

 “Por escolher Marucs Holloway ( um negro de Oakland) como nosso herói, nós sabíamos que isso criaria desafios interessantes conforme ele trabalhasse na indústria de tecnologia, especial no vale do silício.”

Dominic Guay, produtor sênior de Watch Dogs 2 via email para Polygon.

 “Nosso objetivo principal com a narrativa era tentar refletir a verdade por trás de varias histórias na baia de São Francisco. O segundo objetivo da nossa equipe responsável pela narrativa era mantem as coisas leves e divertidas, mesmo falando de temas sérios. Marcus e Horatio são tão carismáticos, que foi muito fácil falar através deles.  Nós escutamos eles “code-Shifting” em suas palavras quando lidam com as pessoas.

Code-Shifiting é quando você dentro do mesmo idioma sabe adaptar sua linguagem, dependo do lugar que você está. Usando um linguajar mais erudito ou apenas com gírias. Isso mostra a identidade cultural deles, lidando com grupos diferentes de pessoas. O Ex-President Obama, demonstra essa habilidade inúmeras vezes.

Era importante fazer com que o jogador não estivesse confortável durante essas situações.

“Embora Horatio goste do seu trabalho e faça parte da equipe da empresa, nos sentimos como pessoas de fora enquanto caminhamos com ele em direção ao campus”, disse Guay. “Dói, mas eles estão brincando juntos. Deve parecer estranho para o jogador, mas Marcus e Horatio estão dando ao jogador permissão para rir junto com nossos heróis à medida que o problema se aprofunda. ”

Essa interação chega muito perto do real para ter sido escrita por alguém que nunca experimentou isso. Eu fui essa pessoa; Eu tenho sido o povo negro singular, ou apenas um de poucos, que tem que lidar com o sutil racismo, as maneiras pelas quais colegas que não são pessoas de cor o tratam de maneira diferente.
Ver isso acontecer no jogo é irritante e validador ao mesmo tempo. Muitas vezes você duvida de ser negro quando diz que coisas assim acontecem em um escritório.

Isso me da esperança de que, se uma equipe de desenvolvedores majoritariamente brancos em Montreal puder fazer o trabalho e acertar, outros sigam sua liderança e tenham uma boa representação de personagens não brancos. Eles reconhecerão as micro agressões que as pessoas de cor experimentam em nossas vidas e mesclam isso nas experiências nos jogos que jogamos. Mas nem sempre isso da tão certo.

Um jogo recente que vem à mente é Virginia, um jogo de aventura ambientado nos anos 90 com duas personagens principais, mulheres negras. Ele falha muito em explorar as nuances do que significaria ser mulher e negra em sua linha de trabalho. Eu joguei Virginia, o tempo todo me sentindo … errada. Parecia estranho, como se algo estivesse faltando o tempo todo.

O sentimento de “essas não são pessoas como eu” me pegou muito forte.

Essa é a parte complicada, no entanto. Há uma espécie de “É ruim se você faz e ruim se você não aborda isso no seus jogos, uma armadilha para os desenvolvedores. Se você tentar lidar com a representação e falhar, as pessoas lhe dirão como você errou e ficaram contra você. Se você faz o trabalho e produz um jogo em que possui boa representação, seu público espera que você cumpra esse padrão, possivelmente excedendo-o em trabalhos futuros.

Você também pode aumentar a ira dos jogadores brancos que simplesmente se recusam a acreditar que cenas de escritório como a de Watch Dogs 2 acontecem na vida real, ou pensam que abordar o tema é de alguma forma mais “político” do que o resto do jogo.

Watch Dogs 2, Mafia 3 e outros jogos que trazem raça e racism na sua história para a mídia dos jogos, é uma mudança benvinda no padrão que estamos acostumados a ver diversas vezes.

Watch Dogs 2 lida com raça de um jeito que parece real e vital. Mostrando a experiência de vida que será familiar para alguns jogadores e surpreendera outros. O jogo é melhor para todos devido a sua inclusão.

Deixe um comentário